01/08/2010

O povo gosta de continuar em crise…

Lendo o post A crise vem do tempo do Eça, vê-se que já em 1867 Eça de Queiroz dizia dos políticos os defeitos que hoje possuem. Mas, apesar de o regime não ser o mesmo, não há organismo que controle os desmandos dos líderes interesseiros e viciados, tendo que ser o povo (em democracia, é ele o detentor da soberania) que deve agir através do voto (votar em branco se os candidatos não são merecedores de aprovação) e manifestando-se de forma visível e determinada contra incompetências e desonestidades de quem está nos lugares de poder. Mas o sentir dos portugueses, «Não penso mas existo», origina esta apatia que vem de há séculos.

Qualquer órgão de fiscalização e moralização do regime seria constituído pelos políticos actuais, rústicos deslumbrados, novos-ricos, coniventes e cúmplices entre si, ávidos de benesses, do enriquecimento ilícito, do futuro tacho dourado nos bancos ou nas grandes empresas, em troca de favores que resultam sempre em prejuízo dos cidadãos anónimos.

Escolham-se pessoas isentas de pecado, sempre que possível ou tanto quanto possível. Os que alguma vez mentiram ou foram desleais aos interesses nacionais devem deixar de ter o voto de pessoas conscientes.

A culpa da situação pantanosa em que vivemos desde há muito (Eça definiu-a há 143 anos) é do povo que tem permitido ser explorado pelos deslumbrados que ambicionam a maior fortuna por qualquer meio.

O povo que não gosta de pensar, embora se lamente da crise, quer a sua continuidade, quer votar nos causadores da actual situação ou por terem errado ou por se terem omitido. A notícia Sondagem dá vitória folgada a Cavaco à primeira volta não surpreende e demonstra a apatia tradicional, é disso demonstração cabal.

Dar o voto a quem durante um mandato nada fez de especial, positivo, e teve várias situações dúbias. Sentiu-se na necessidade de tentar justificar a compra e venda das acções da SLN (BPN), a não exoneração do Conselheiro de Estado Dias Loureiro (BPN), o Estatuto dos Açores, as escutas no Palácio de Belém, a promulgação do casamento homossexual (mal argumentado) .

Se não fez melhor e foi por não ser capaz, não dá esperança de fazer melhor no segundo mandato. Se não teve coragem de lutar contra a crise económica, política e social com a intenção de poder ganhar as eleições para um segundo mandato, foi desleal a Portugal porque colocou os seus interesses pessoais acima dos interesses nacionais. Mas o povo não pensa e, segundo as sondagens, dá-lhe a vitória à primeira volta, enquanto ao único candidato que está virgem em manhas e vícios de políticos, dá apenas 10%.

O povo apesar de se queixar, gosta masoquistamente de continuar no mesmo lamaçal com os mesmos carcereiros. Cada povo tem o que merece, como no tempo do Eça, mas agora, com o inconveniente de estarmos em democracia e cada eleitor ter direito a um voto…

Imagem da Net

12 comentários:

Unknown disse...

Bom dia João
Não deixa de ter razão na sua critica à sociedade actual.
Repara que isto não é só em portugal.É na Europa toda e com mais gravidade ainda no Parlamento europeu.
Parece que é uma ciência que eles estudam e aperfeiçoam consoante os seus interesses.
A corrupção cada dia é maior e mais grave e as desigualdades são ainda mias gritantes.
Quando é que as leis podem ser só a favor de alguns e não da generalidade dos cidadãos....?

António Gallobar - Ensaios Poéticos disse...

Olá bom dia

Completamente de acordo, acredito que as coisas mudem mas é dificil há muitos interesses instalados e o povo sente-se perdido no meio de tanta desinformação...

Abraço

A. João Soares disse...

Caros Luís Coelho e António Gallobar,

A referência ao que se passa na Europa até poderá estender-se a mais vastas áreas do globo. Há movimentos que se esforçam sistematicamente para constituírem um governo Mundial, que será sem dúvida uma ditadura feroz, com uma elite de privilegiados, governante, e uma cambada de trabalhadores quase acéfalos, porque a engenharia genética já consegue esse objectivo. Hitler já o pretendia mas a ciência ainda não o possibilitava.
O nosso ensino está a avançar para a ignorância generalizada com entrega de diplomas a ignorantes: estão a acabar com os chumbos e as repetições!!!

O povo tem muito poder, como se tem visto com os resultados de manifestações e abaixo-assinados.
Deve usar todo o poder que tem, porque quem faz as leis não vai prejudicar os seus próprios interesses e os dos amigos cúmplices e coniventes.

É preciso governantes a autarcas que não estejam comprometidos com os actuais vícios e manhas de políticos calcinados no desejo de enriquecimento rápido.

Abraços
João
Do Miradouro

Rogério G.V. Pereira disse...

Meu Caro,

O Luis Coelho manifestou uma incerteza: "Parece que é uma ciência que eles estudam e aperfeiçoam consoante os seus interesses" Eu não tenho duvidas de que é assim mesmo. Acrescentando-se á ciência modos e instrumentos de a tornar prática. Exemplos? Meter na gaveta da utopia, os valores; Tornar o fácil dificil, só para banalizar a troca de favores; Promover a pequena corrupção para tornar moralmente aceitável a grande; Fazer da liberdade um valor absoluto...Instrumentos? Os mesmos de sempre acrescidos e actualizados. Exemplos: Fado; Futebol; Fátima, Facebbock...

Mas isto vai mudar! Ái vai, vai!

Abraço e parabéns pelo post

A. João Soares disse...

Caro Rogério Pereira,

O seu comentário traz pontos de reflexão com muito interesse.
Esquecer os «empecilhos» dos valores éticos, da moral, da racionalidade, da razoabilidade, para a libertinagem crescer e para eles poderem actuar sem serem criticados por cidadãos utópicos e lunáticos.
Tornar o fácil difícil com o máximo de burocracia que atrai as «atenções» para ser obtida uma solução rápida.
Criar condições para a pequena corrupção, o que tira críticos à grande corrupção e cada um espera que ela lhe seja útil para meter uma cunha. E a corrupção generaliza-se e é desculpada como «rumores», «maledicência», «cabalas».
Tudo isto com a desculpa de fundo da ampla liberdade obtida em Abril e que serve para encobrir tudo o que se pretenda ocultar.

Claro que isto tem que mudar, pois nada é terno e esta situação é insustentável, mas não se esperem milagres dos actuais viciados no Poder que não irão fazer algo contra si próprios e os amigos cúmplices e não querem arriscar-se a perder votos para outro partido.

Terá de haver grandes pressões do povo independente dos mecanismos dos partidos. E é urgente que essa pressão surja depressa, porque o ensino, sem chumbos nem repetições, está a preparar-se para formar imbecis sem capacidade de pensar, mas com um diploma na mão.

Um abraço
João

Pelos caminhos da vida. disse...

Passando rapidinho só pra avisar que estou de volta.

Senti tantas saudades desse mundo fascinante da blogsfera, dos amigos, é muito bom estar de volta.

beijooo.

Ana Maria disse...

Temos que ser otimistas para que haja mudanças.
Bons sonhos!
Beijinhos!

A. João Soares disse...

Querida Ana Maria,

Neste caso, com a carga de desinteresse de apatia, de sonolência, não basta optimismo, porque este não gera nada de novo e de diferente. A inovação, a mudança exige de cada um de nós um esforço, gosto de aventura, de planeamento, para ser possível. A apatia de aceitar aquilo que está só pode resultar em maior podridão no pântano. Água parada dá poluição, mau cheiro, pestilência.

Quando os pensadores criaram a «democracia», com tempo limitado dos mandatos e de limite do número de mandatos seguidos, tinham a perfeita noção de que a continuidade não é boa senão para ditadores exploradores, sugadores das energias dos povos.

O povo deve raciocinar em termos de interesse nacional e não dos seus caprichos e falsa noção de comodidade (preguiça, sonolência).

Beijos
João
Do Miradouro

Unknown disse...

Caro João,
este é um assunto de extrema importância, o povo dá a impressão que já se habituou a ser enganado. O Luís Coelho faz uma pergunta pertinente à qual penso que já todos sabemos a resposta. As leis são feitas de acordo com as conveniências de quem as faz e para proteger somente alguns, daí a nossa justiça estar totalmente podre.

Beijinhos,
Ana Martins

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amigo João.

Finalmente li o seu post!!!
Aleluia!

O que dizer agora que já foi tudo dito?
Eu não diria tanto - O povo não gosta de continuar em crise - o povo está acomodado, demasiadamente acomodado e apático. Isso sim!
A mim, esta situação irrita-me profundamente.
Por isso não gosto de comentar textos políticos, tendo contudo bem presente, que a política está em tudo o que fazemos e dizemos...
mas cansei!
Sinceramente...estou farta!

Lembrei-me de que há tempos atrás, aqui neste mesmo Blog, um colega nosso, não sei precisar quem...Contou a história do menino Madeirense que chegou à Escola e contou à professora que lá em casa tinha nascido uma ninhada de 8 coelhinhos lindos, todos do PSD.
Como no dia seguinte a mesma Escola seria visitada pelo Sr. Primeiro "sinistro" ahahahah!
A Sra. Professora pediu ao menino que contasse aquela linda história ao Sr. Primeiro...o que ele fez, naturalmente.
Mas...disse na devida altura que só 5 eram do PSD ahaha!
A Prof, muita aflita, pergunta " Mas então já morreram 3?"
ao que o menino responde "Não Srª Professora, três deles já começaram a ver......."

Beijinhos

A. João Soares disse...

Quarida Ana Martins,

É realmente uma acomodação que prejudica as pessoas e a colectividade. ´É recusa de usar os direitos de cidadania, e os respectivos deveres Todos criticam a crise, a injustiça social, o fosso entre os mais ricos e os mais pobres, mas depois votam sempre nos mesmos, o que se traduz estarem a sustentar a continuidade da crise.
E, por isso desde o Eça que nada melhorou.

Beijos
João
Do Miradouro

A. João Soares disse...

Querida Ná,
Para quem diz não gostar de política este seu comentário está portentoso.
Mas todos nós devemos estar atentos e analisar os sinais. Porque em democracia o futuro do País depende de todos e de cada um. Temos de estar preparados para tomar uma atitude no momento em que somos chamados a votar.
Quem se desinteressa, entra no número dos apáticos e indiferentes a quem se deve a pasmaceira em que o país vive desde os tempos do Eça.
A política é nojenta quando se defende cegamente uma solução, um partido sem se usar o raciocínio.

Procuro manter a minha imparcialidade e nos 2434 posts que estão no Do Miradouro podem ser encontradas críticas e elogios a actos e palavras de pessoas de todos os partidos. Não ataco pessoas e respeito todas, mas as suas palavras, actos e decisões podem ser criticadas ou elogiadas, sem molestar a pessoa.
Neste aspecto não é mal falar de política, mas já não acho bem entrar em tricas e aleivosias contra uma ou outra pessoa só por ser de um partido.
É por isso que digo que a solução não pode assentar na mudança das pessoas, mas sim na alteração das regras que a política utiliza, pelo que defendo que se crie um código de bem governar, ou um código de conduta de políticos.

Beijos
João
Do Miradouro