Mensagem de Ano Novo de 2016
Por Zélia Chamusca
O
Ano Novo é renovação no sentido lato do termo.
A
celebração do Ano Novo remonta às sociedades primitivas sendo bastante anterior
aos sumérios.
Nestas
sociedades a renovação estava relacionada com as diferentes culturas de cereais
e frutos em cada uma das estações do ano, ou seja, o conceito de renovação
estava associado às reservas alimentares. Assim, a festividade do Ano Novo era escalonada pelas
diferentes estações, dependendo dos cereais cultivados e do amadurecimento dos
frutos. A celebração era feita através
de rituais que asseguravam a continuidade da vida em toda a comunidade.
A
diversidade da duração do período que, independentemente da cultura dos povos
da antiguidade, era atribuída ao ano,
nunca minimizava a importância conferida ao fim de um período de tempo e ao
início de novo período.
Em
todas as sociedades, a renovação implica
um nascer de novo.
Na cultura
cristã, o nascimento de Cristo, é o símbolo da renovação, considerado o Homem Novo, porque reflete
fielmente a imagem e semelhança do seu Criador seguindo de perto o exemplo de
Deus, sendo o amor o atributo principal que nos veio transmitir.
“
Eu vos dou um mandamento novo: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim
também vós deveis amar-vos uns aos outros (Jo 13,34).”
Muito
haveria a dizer, porém, permito-me, apenas, referir, sinteticamente, três
aspectos relevantes na simbologia do Ano Novo, enquanto renovação:
Cronológico, cosmogónico e ontológico.
a) Cronológico
A
cronologia (do grego “chronos”, tempo
e “logos”, estudo) é a ciência cuja
finalidade é a determinação das datas e a ordem dos acontecimentos históricos.
A
cronologia do tempo é, entre nós, determinada pelo calendário gregoriano porque
foi promulgado pelo Papa Gregório XIII (1502–1585) e é também chamado calendário Cristão porque tem como data o
nascimento de Cristo.
O
Ano Novo sucede ao final de um ciclo temporal para, anulando o passado, dar lugar ao futuro, condição necessária para
o nascer de novo, para o recomeço de um novo ciclo cronológico.
É a renovação
do tempo.
b) Cosmogónico
A cosmogonia
(do grego “cosmos”, que significa universo, e “gonia”, que quer dizer geração, nascimento), é a parte da metafisica que estuda a origem e criação do universo.
Trata-se
de uma especulação filosófica sobre a origem e formação do mundo que se
encontra em muitos mitos religiosos e na filosofia dos pré-socráticos,
principalmente em Tales de Mileto, o primeiro a defender que a água era a base primeira de tudo quanto existe.
A celebração da passagem do Ano Novo é, como
atrás referi, um ritual antiquíssimo, celebrado em datas variáveis, que já
existia antes da época suméria e, independentemente das diferentes culturas dos
povos, mantem, ainda hoje, a mesma simbologia mítica da renovação como sendo uma retomada do tempo no seu começo e,
por outro lado, uma repetição
cosmogónica, isto é, a passagem do Caos à Cosmogonia, ou seja, a passagem do
espaço vazio primordial às origens.
O Ano
Novo é, assim, um recomeço, é renascer. É renovação.
c) Ontológico
A ontologia
(do grego “ontos “ ente e “logoi”, ciência do ser) é a parte da
metafísica que trata da natureza, realidade e existência dos entes, do ser
enquanto ser, ou seja, do ser concebido como tendo uma natureza comum, inerente
a todos e a cada um dos seres .
Nesta
natureza comum, no reino vegetal as plantas, compostas de matéria inerte, são
dotadas de vitalidade. Elas não pensam, não têm mais do que a vida orgânica.
Podem ser afetadas por ações sobre a matéria, mas não têm percepções; por
conseguinte, não têm a sensação de prazer ou dor. Como não pensam, não podem
ter vontade, e não têm consciência de si mesmas; nada mais possuem que um
instinto natural e cego, o próprio instinto de conservação que é puramente
mecânico.
Contudo,
elas renovam-se dando-nos prova de eterna renovação cujo
processo começa pelo seu declínio,
geralmente, na aproximação do final do ano para
o seu renascer após o início do Ano Novo.
O
processo de renovação da natureza, constatamo-lo, pois, nas plantas, nos
arbustos, nas árvores com o renovar da folhagem e o desabrochar das flores, a
formação dos frutos, etc. Sentimos a renovação no reflorescimento de toda a
flora terrestre através da beleza que encanta o nosso olhar e o aroma que
docemente nos inebria fazendo-nos pensar, embora momentaneamente, que vivemos
num verdadeiro paraíso.
Este
paraíso terrestre com que o renovar da natureza assola os nossos sentidos é demasiado
efémero nos nossos sentimentos pois não nos dá tempo para reflexão sobre este
fenómeno tão natural, a renovação.
E
nós, humanos, que nos sobrepomos aos
restantes entes criados, dominamos todas
as outras classes por uma inteligência especial, ilimitada, que nos dá a
consciência do nosso futuro, a percepção das coisas extramateriais e o
conhecimento de algo que nos transcende, pergunto:
Qual
o nosso contributo na renovação da sociedade em que estamos inseridos?
A
natureza renova-se, permanentemente, num ciclo eterno, mas, nós não reparamos,
não sentimos, não pensamos, a não ser por efémeros momentos, especialmente na
primavera contemplando a natureza e, talvez, na Páscoa da Ressurreição, no nosso contributo na renovação do mundo.
O
verdadeiro símbolo do Ano Novo é a renovação. A renovação que parte do nosso
interior, “stricto sensu,” e o nosso
papel no mundo, “lato sensu”.
Qual
o nosso contributo, repito, para esta passagem, para o recomeço de um Novo Ano
para que seja um ano de paz, amor e fraternidade?
Nós,
seres humanos, com natureza comum a todos os seres criados, não pensamos, que não só, tal como toda a natureza, todos os
seres criados por Deus , “Deus sive
Natura”, segundo terminologia de Espinosa, não só, repito, que tal como ela
nos devemos renovar, e, temos o dever moral de nos renovarmos pois, somos
dotados das principais características que nos diferenciam de todos os outros seres: a consciência, o pensamento,
o livre arbítrio, a responsabilidade moral; atributos que nos colocam no cume
da pirâmide hierárquica da natureza, da criação.
É
nossa a responsabilidade pelo mundo, por este mundo cruel onde prolifera a corrupção,
a ganância, a fome, a guerra, a destruição, etc.
E
nós, quando renovaremos o nosso coração?
Tentemos,
neste Novo Ano de 2016, fazer deste caos terreal em que nos movimentamos, um
jardim eterno e paradisíaco, mesmo que isto seja sonho de poeta, depende de nós
torná-lo realidade, empenhando-nos na construção duma sociedade de amor e de paz, aromatizada
com o bálsamo da fraternidade onde reine a verdadeira essência do Natal
seguindo a Mensagem que Jesus nos veio de novo lembrar:
“Eu vos dou um mandamento novo: amai-vos uns
aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros
(Jo 13,34)”
Zélia Chamusca
Ano Novo/2016