Pelo que sei empiricamente e não só, os licores surgiram para guardar, transmitir e potencializar os princípios activos e os sabores de ervas, plantas e frutas no álcool.
Segundo o meu livro, as Receitas da Avó, a tradição do licor encontra a sua origem no fabrico caseiro. Para além do peso histórico familiar, os licores representam igualmente o aproveitamento racional dos excedentes das culturas dos frutos que existem na quinta que doutra forma seriam desperdiçados e também, naturalmente, do tempo que se tem para a sua preparação. Mas garanto-vos que não é nada de complicado e os resultados compensam todo o trabalho e tempo investidos.
Conforme o meu texto aqui-pelo-campo faz referência, eu realmente faço os meus deliciosos licores de forma completamente natural. Como?
Vejamos… para se fazer um bom licor, em primeiro lugar são precisos os ingredientes. É fundamentalmente da qualidade destes que vai resultar um licor divinal. Parte do segredo deve-se ao facto dos licores serem produtos totalmente naturais, sem adição de corantes ou conservantes, podendo-se assim maximizar o sabor e o aroma dos frutos que lhes dão origem.
Os meus licores são feitos com aguardentes que o meu marido produz, por destilação de excelentes bagaços provenientes dos lagares de familiares, ou do resultado da fermentação da própria fruta da minha mini “Quinta do Rau” que posteriormente também vou usar, sejam laranjas, tangerinas, feijoas, araçãs. As laranjas e tangerinas exigem serem previamente descascadas.
Usando as aguardentes citadas e frascos grandes com aberturas largas, veja na foto seguinte, começo por introduzir os frutos e o açúcar, pessoalmente só uso frutose, açúcar obtido a partir de fruta que pode inclusivamente ser tomado por diabéticos. De qualquer forma, uso sensivelmente metade das quantidades indicadas nas receitas publicadas, uma vez que os próprios frutos transmitirão não só a sua cor, o seu aroma mas também libertarão o seu próprio açúcar.Convém agitar os frascos regularmente para que o açúcar se dissolva completamente.
Quando os frutos estão já incolores, filtro e volto a colocar mais frutos frescos e assim sucessivamente até obter a intensidade de cor, aroma e sabor que me parecem adequados. Nesta fase, filtro novamente e coloco o líquido numa garrafa onde agora adiciono ainda um pedacinho de madeira de carvalho, outro mínimo de vagem de baunilha e canela em pau.
Com o tempo criam-se depósitos e é necessário filtrar com alguma regularidade. O produto final estará pronto a consumir ao fim de algumas semanas, duas ou três, mas…nessa altura será o sabor fresco da fruta usada que sobressairá, enquanto que mais tarde, um ou dois anos ou mesmo mais, o licor terá enriquecido substancialmente, ganho corpo (lágrima) e estará sobretudo muito mais macio, uma vez que a aguardente amadureceu. Finalmente verifica-se a graduação alcoólica e rectifica-se com água do Luso. Graduação nunca inferior a 16 graus de álcool por volume, normalmente nunca superior a 20º.
Fernanda Ferreira