por Maria Teixeira Alves, em 05.01.14
O mais interessante das declarações
espontâneas de Mário Soares sobre Eusébio, a propósito da sua morte, é a
revelação de uma coisa que há muito eu sei, mas que todos parecem ignorar: a
esquerda também pode ser preconceituosa e soberba. A esquerda tem uma Maria
Antonieta, mas ninguém parece reparar.
Mário Soares começa por dizer de
Eusébio, "que era um homem agradável com pouca cultura, mas evidentemente
que não se estava à espera que ele fosse um pensador, o que se queria é que ele
fosse um grande futebolista e ele foi". Depois de alguns elogios à sua
modéstia e simplicidade, como compete a este tipo de pensamento, Mário Soares
lembra que lhe falava quando se encontravam: "Fui algumas vezes
almoçar naqueles restaurantes onde ele comia" [reparem bem na terminologia
usada].
Depois acaba a dizer uma coisa pouco
conveniente (isto é da idade): "Não sabia nada que ele estava doente,
sabia que bebia muito whisky, todos os dias, de manhã à tarde, mas julguei que
isso não lhe fizesse assim mal".
Traduzindo, para Mário Soares,
Eusébio era um bruto ignorante que sabia jogar bem à bola. Era um simples e
modesto como compete aos inferiores de classe, e até comia (não almoçava, nem
jantava, dadas as maneiras típicas daquela classe) nuns lugares onde ele Mário
Soares almoçava e jantava. Agora não passava de um bêbado. E Mário Soares
achava que gente daquela estirpe tinha uma resistência física de um touro e
como tal, whisky de manhã à noite todos os dias não haveria de lhe fazer assim
mal.
Tenho ainda a destacar a ausência da
reprodução destas declarações nas televisões, e nos sites. Fosse alguém de
direita a proferir estas declarações e incendiavam-se a internet e os media,
com imagens e comentários de indignação. Todos, de Isabel Jonet a Fernando
Ulrich, foram corridos ao estigma Maria Antonieta, mas Mário Soares está imune.
Viva a democracia, onde cada um pode
dizer o que quer porque é livre (ou libertino). Mas há uns que são mais livres
que outros!
Declarações de Mário Soares sobre a
morte de Eusébio:
De
facto, há gente que não sabe quando deve sair do palco... Como bom oportunista
que é, quando precisou dele, encostou-se. Por muito grau académico que tenha, isso nunca
fez dele melhor pessoa.
Este Mário Soares tornou-se uma vergonha nacional.
Não haverá ninguém que lhe diga para estar calado? Ele
sempre falou como se fosse um reizão neste país e sempre disse enormidades que
lhe perdoavam e que se fosse a outro político qualquer cairia o Carmo e a
Trindade.
Imagine-se se estas palavras fossem ditas por
outro...
Vamos fazer uma petição ao parlamento para que
interditem aquele sujeito e lhe tirem o tempo de antena.
Qual será o problema dele? Será que Eusébio no Panteão lhe poderá tirar um lugar a que ele se julga com direito? Quer viver para a eternidade...
2 comentários:
Realmente M Soares fala demais, mais do que o bom senso aconselha. É o vício dos políticos.
Mas diz coisas certas. A ida de Eusébio para o Panteão Nacional é um tema que precisa de profunda análise e, depois desta, certamente, haverá a pergunta das razões que levaram para lá alguns.
Transcrevo aquilo que escrevi num comentário há 3 dias:
Com a proliferação de ídolos, embora efémeros, estamos a regredir para a mais antiga fase da humanidade em que o politeísmo consistia na adoração de um Deus para cada problema que o homem não percebia, o sol, o mar a lua, o vento a trovoada, etc . Mas o mundo foi evoluindo e a ciência foi dando respostas a muitas dúvidas e, então surgiu o monoteísmo.
Hoje adoram-se muitos ídolos efémeros, desde o dinheiro ao objecto tecnológico com mais capacidades que os anteriores, ao dinheiro, às pessoas que se destacam em actividades populares, mesmo que sem significado cultural sem contributo para o desenvolvimento mental e científico, como o futebol e os espectáculos alienantes. O Papa Francisco tem-se referido muitas vezes a esse culto dos ídolos efémeros que impedem o relacionamento construtivo com os familiares, colegas e vizinhos, e por vezes criam separações e conflitos clubísticos.
Abraço
João
Caríssimo João,
Realmente o Papa Francisco chegou numa altura crucial em que o bezerro de ouro e a fama ainda que muitas vezes não haja razão para a mesma existir são tidos como deuses e processos a seguir e a idolatrar.
Hoje li um artigo sobre quem deve ou não estar no Panteão e fiquei deveras preocupado com o rumo que pode vir a ser seguido!
O BOM-SENSO está faltando!
Um abraço amigo.
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