Para os bancos, Portugal constitui um paraíso de
privilégios, que são suportados pelos cidadãos, a viver num autêntico inferno.
Durante décadas, as entidades bancárias confundiram
banca comercial com banca de investimento. Utilizaram o dinheiro dos clientes
em activos tóxicos, produtos de alta rentabilidade mas de credibilidade
duvidosa.
Ganharam assim fortunas que enriqueceram de forma
obscena os seus accionistas.
Mas quando este jogo financeiro de casino deu para o
torto e os prejuízos surgiram, logo os banqueiros vieram pedir socorro ao
Estado, alegando que tinham que proteger os seus depositantes.
Com base nesta argumentação, o Estado vem assumindo
todos os prejuízos da banca, à custa do dinheiro dos contribuintes. Nacionalizou o BPN, herdando o buraco de sete mil
milhões; canaliza milhões de fundos públicos para ajudar os bancos, do Banif ao
Millennium, passando pelo BPI.
Aos bancos nunca nada se nega. Até uma parte
significativa do apoio internacional (12 mil milhões) foi destinada à
recapitalização do sector, para que este possa apoiar as empresas. É claro que
os bancos recebem os recursos, mas esquecem o tecido empresarial.
Dedicam-se a negócios mais rentáveis, nomeadamente à
especulação com títulos da dívida pública. E quem garante este negócio? Por
absurdo, o próprio Estado que lhes havia facultado o financiamento. E que, por
via da sua política orçamental, sacraliza a dívida pública, transformando-a no
melhor dos negócios. Em 2013, foi mesmo das mais rentáveis do mundo! Não é
pois de estranhar que, em conjunto, os bancos lusos detenham mais de 26 mil
milhões de euros em títulos de dívida portuguesa. Dinheiro tão necessário e que
muito útil seria se financiasse a actividade económica.
Desta forma perversa, o Estado português financia os
bancos para que estes possam ganhar dinheiro com o próprio Estado. Quem paga no
final?
Obviamente, o contribuinte de forma directa, pela via
dos impostos; e, de forma indirecta, as empresas, que se deparam com uma
escassez de crédito.
E enquanto os bancos ganham em dois carrinhos, os
portugueses, particulares e empresas, perdem em toda a linha.
Paulo Morais | Correio da Manhã | 15-02-2014
2 comentários:
Caro Luís,
Obrigado por trazeres mais este trabalho do professor Paulo Morais. Este texto muito claro e objectivo, com a qualidade a que o autor nos tem habituado, vem ajudara compreender um aspecto importante da crise que tem sido demasiado pesada aos portugueses que não fazem parte das malfadadas «elites» do capital e da política. A ausência de sentido de Estado e de responsabilidade de governantes que agem submetidos a pressões dos donos do dinheiro, fica aqui desmascarada. «O povo que se lixe».
Paulo Morais será um nome de quem a história irá falar como um óptimo exemplo de cidadão que oferece corajosamente aos governantes análises e sugestões que não podem ou não devem ser desprezadas para bem dos portugueses.
Mas, infelizmente, a obstinação dos políticos leva-os a teimarem nos erros e isto já não se endireita apenas com palavras. Temo que , em alternativa a estas, surja um surto de actos de violência descontrolada em que as maiores vítimas sejam os mais desfavorecidos. Oxalá, predomine o bom senso, o patriotismo, impere a boa ponderação, o planeamento, a programação sempre com vista aos melhores resultados para as classes mais sacrificadas pelos maus governos que temos tido.
Abraço
João Soares
Caríssimo João,
Eu começo a crer que não é "obstinação" deles mas sim como que uma obrigação que têm para com a "Nova Ordem" e assim poderem ter todas as benesses que tal atitude lhes garante. É o "TER" a prevalecer sobre o "SER"!!!
É que eles não são tão ignorantes nem tão estúpidos como parecem ser... Eles sabem é "governar-se"!!!
Um abraço amigo e solidário.
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