10/03/2010

Os custos da ingenuidade

Tanta conversa, tanto arrepelar de cabelos, tanta "consciência tranquila" e, afinal, os portugueses não se importam com a corrupção. Até gostam de corruptos desde que apanhem algumas migalhas que caiam da mesa do banquete. A boa notícia foi dada ao Parlamento (ouvidos cínicos terão julgado escutar um grande "uff!" no hemiciclo; mas veio das galerias) por Luís de Sousa, investigador e responsável da Secção Portuguesa da Transparency International.
Concentração de poderes; "recrutamento do tipo familiar, partidário, portanto recrutamento sem mérito nem qualidade"; repressão selectiva ("peixe miúdo", diz o investigador; excluem-se, pois, robalos e congéneres) e sem credibilidade ("regresso às funções", em quem estaria a pensar o Prof. Luís de Sousa?); "passagem de políticos para (...) empresas após o termo do mandato e vice-versa" (tudo mentira!), seriam exemplos do que leva 63% dos portugueses a concluir que se pode e deve "fazer mais do que a lei permite e menos do que a ética exige". Ficam explicados os 37% de portugueses pobres: são os ingénuos que ainda julgam que as leis são para cumprir.
JN

4 comentários:

A. João Soares disse...

Caro Luís,

Os ingénuos, como o autor lhes chama, são pessoas honestas, cumpridoras da lei, orientadas por valores éticos e de cidadania. Mas isso, como fica demonstrado, traz-lhes pobreza. 37% dos portugueses é muito.
Desta forma a sociedade, tal como é aceite pelo regime estimula para o crime, a infracção, em vez de atrair para o comportamento exemplar.
Isto não acontece nos países que evoluem e em que as pessoas usufruem de condições de vida agradáveis, ao ponto de terem muitos dos nossos emigrantes. Há que sem tardar, imitar aquilo que há de bom «em tais países, nas actividades governativas, na escala de valores em que se apoiam. O ressurgimento de Portugal tem que partir dos governantes e da sua «entourage». Se o não conseguirem, o futuro do povo lusitano poderá ser dramático.
O texto enuncia muitos erros a reparar e a evitar. Enquanto não encontrarem outros, comecem já a deitar mão a estes e tratem de os sanear.

Abraço
João

Luis disse...

Caro João,
A ingenuidade aqui é uma forma eufemística de apresentar as pessoas sérias do País. Mas a verdade é que se está a caminhar para a degradação dos Valores e por consequência das pessoas! Cada vez mais há menos "pessoas de bem"!!!
Um forte e amigo abraço.

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Querido amigo Luís,

Só 37% dos portugueses são pobres???
A sério??? Ou paupérrimos!!!
Acho que pobres, pobres mesmo, há muitos mais!

Não, não estou a falar dos pobres de espírito que nos desgovernam, esses estão-se nas tintas para os pobres, para os verdadeiramente carenciados.

Felizmente há portugueses ingénuos que acreditam que as leis são para cumpri...
Não somos todos do mesmo gang.

Beijinhos

A. João Soares disse...

Caro Luís,

A degradação social é notória. Não há nenhum político que tenha sido condenado a prisão! Alguém acredita que só vão para a política pessoas impecáveis, autênticos santos???
Cito dois posts em que se vê que nos EUA as leis são aplicáveis a todos os cidadãos sejam ou não políticos ou poderosos noutros sectores. Não há imunidades nem impunidades~.
Nos EUA os políticos estão sujeitos à lei geral
Justiça e poderosos em Estados de Direito
Na nossa justiça tem havido muitos «casos» e muitas «operações», com nomes bem escolhidos, sonantes, que levantam a esperança de se ver feita Justiça, mas depois de muito tempo e dinheiro gasto por juízes e advogados, tudo estiola e seca sem dar fruto. Parece MILAGRE!!!
Nos EUA, por mais mal que se diga daquele povo, esse arquivamento ou adiamento «sine dia» ou falta de provas juridicamente válidas não acontece.
O texto de Manuel António Pina está muito bem estruturado e faz pensar, quem não passe por ele na diagonal, nas tristes realidades de Portugal.

Um abraço
João