I(...) Na
parte relevante da entrevista, Scalfari pergunta ao Papa Francisco
se ele alguma vez teve uma experiência mística. Esta é a resposta que foi apresentada
pelo La Repubblica, sobre os momentos imediatamente posteriores a ter
sido eleito papa:
"A minha cabeça estava
completamente vazia e eu sentia-me em grande ansiedade. Para ultrapassar esse
momento e relaxar fechei os olhos e suspendi todos os pensamentos, incluindo o
pensamento de recusar a escolha, tal como permite o procedimento litúrgico.
Fechei os meus olhos e deixei de ter qualquer ansiedade ou emoção"
O Papa Francisco dá a
entender que esta experiência lhe deu coragem para aceitar a missão e avançar.
Esta descrição é importante
porque ajuda a explicar aquilo que doutra forma seria inexplicável: como entender a transformação que se está a dar em Jorge Mario Bergoglio desde que se
tornou o Papa Francisco?
Lembremos que durante os 15 anos
que esteve como arcebispo de Buenos Aires, Bergoglio deu um total
de cinco entrevistas. Nos sete meses que ele é papa, já deu três, e todas as
três admiráveis.
Os jornalistas que tratavam
noticiosamente Bergoglio na Argentina relatam que ele evitava os
holofotes, e nas raras ocasiões em que teve de aparecer em público, muitas vezes
assumiu um tom formal e, segundo alguns, um pouco aborrecido. Como papa, ele
tornou-se uma estrela rock. Como arcebispo e presidente da conferência
episcopal argentina, Bergoglio era cuidadoso e ponderado nas suas
declarações públicas, enquanto como papa ele deita tudo cá para fora.
Em abril passado entrevistei a
irmã, Maria Elena Bergoglio, e também ela disse que há qualquer coisa
diferente no irmão desde que ocupou a liderança da Igreja.
Recentemente, falei com um dos
cardeais que elegeu Francisco (já agora, não era americano), que foi
recebido pelo papa numa audiência privada. O cardeal contou-me que lhe disse à
queima-roupa:
"Você não é a mesma pessoa que eu conheci na Argentina".
"Você não é a mesma pessoa que eu conheci na Argentina".
Segundo este cardeal, a resposta
do papa foi mais ou menos esta: "Quando
fui eleito, uma grande sensação de paz interior e liberdade tomou conta de mim,
e nunca mais me deixou."
Por outras palavras, Francisco teve uma espécie de experiência
mística na altura da eleição como papa que aparentemente o libertou e permitiu ser
muito mais espontâneo, franco e ousado que em qualquer outro momento do seu
percurso anterior.
Nunca deveríamos subestimar a
marca mística no perfil de um pontificado.
João Paulo II, por exemplo, foi por vezes acusado de ser
excessivamente determinado - teimoso, alguns diriam – sempre que se convencia
de alguma coisa. No entanto, este foi um papa profundamente convencido de que
em 13 de maio de 1981 a Virgem Maria mudou a trajectória de uma bala
para o manter no cargo. (A tentativa de assassinato ocorreu na festa de Nossa
Senhora de Fátima.) Dada essa convicção, João Paulo II sem dúvida
sentiu uma certeza sobre o caminho que ele estava a fazer que ia muito para
além da lógica meramente humana.
De forma similar, Francisco pode
estar agora a sentir uma segurança sobre a nova direção que ele está a traçar
que vai muito mais fundo do que os cálculos dos peritos de relações públicas ou
das "melhores práticas" da gestão de organizações.
Isso, pelo menos, parece ser a implicação mais óbvia do que ele disse tanto ao meu amigo cardeal como a Scalfari.
Isso, pelo menos, parece ser a implicação mais óbvia do que ele disse tanto ao meu amigo cardeal como a Scalfari.
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