10/01/2013

Estou velho ? Felizmente !

Fiz anos. Muitos. Mais do que esperava quando era jovem.

Recebi às primeiras horas os parabéns de uma amiga e colega de blogue, à qual dedico estas reflexões que as suas palavras me inspiraram.

Poder beneficiar da sua amizade e da sua simpatia é uma fortuna extraordinária. Sempre atenta à agenda e sempre disponível para emitir raios calorosos de felicidade que tornam o mundo melhor numa convivência mais harmoniosa e com uma felicidade contagiante. A vida é um caminho por vezes difícil e com muitos obstáculos que temos que saber ultrapassar ou tornear com sensibilidade e persistência, tirando o melhor ensinamento de cada dificuldade.

A dada altura, neste blogue levantou-se a polémica de se dizer idoso e não velho. Tomei a posição de preferir «velho» não dando importância ao dito «velhos são os trapos», porque uma pessoa não é um trapo, nem novo nem velho, e a velhice bem preparada ao longo da vida transforma as pessoas num armazém recheado de sabedoria adquirida ao longo dos anos, desde que estes sejam vividos na busca da compreensão dos outros e daquilo que nos cerca. Não é por acaso que em algumas tribos africanas, o soba, antes de tomar decisões importantes, reúne o «Conselho dos Velhos» e os ouve atentamente, para reduzir a possibilidade de erro, para não cair em entusiasmos fáceis que a experiência dos tempos mostrou não serem o melhor caminho.

A vida não é uma riqueza bem definida, sólida e com prazo de duração estabelecido, mas sim uma peça preciosa muito frágil que pode partir-se em qualquer momento e devemos estar preparados para esse momento, sem angústia e sem receio. Há pouco mais de 57 anos, estive prestes a perdê-la e entre os muitos amigos espalhados por vários pontos do país circulou a notícia de que tinha partido. Mas consegui ultrapassar essa pedra encontrada no caminho, embora só tivesse recuperado totalmente a operacionalidade do braço esquerdo cerca de sete meses depois, com uma cicatriz enorme no braço e um corpo estranho junto da artéria femoral na anca esquerda.

Aprendi então a respeitar a vida sem medos e sem o habitual sentido de posse de um bem interminável, mas com a convicção de que ela deve ser aproveitada, no dia-a-dia, para desempenharmos acertadamente as nossas tarefas e tudo o que pudermos fazer para bem dos que estão mais próximos e de toda a humanidade. O exemplo de bem viver de forma positiva, difundindo valores e princípios de bem conviver com harmonia, constitui um factor de irradiação de felicidade que beneficia a humanidade e se reflecte, retornando para nós e dando-nos alegria de viver e força anímica para continuar. Cada um de nós deve agir com rigor e eficiência no desempenho das suas tarefas e cumprir com entusiasmo e persistência os seus deveres como elemento da humanidade. O bem ou o mal do mundo depende das acções e das palavras dos seres que o constituem, porque é o somatório dos actos de cada um.

Mas, apesar desta filosofia de vida ser útil e positiva, não impede que a vida continue a ser um caminho com variados obstáculos, as pedras da picada, que obrigam a continuar a conduzir atentamente para evitar acidentes. Quem ler as minhas reflexões deixadas ao longo destes blogues compreende bem a minha dedicação ao ambiente que nos cerca, à humanidade. Mas, surgem muitas pessoas investidas de poder sem terem um mínimo de sensibilidade para os assuntos que vão interferir de forma muito incisiva nas vidas das pessoas. Há «responsáveis» que se deixam encantar cegamente pela música dos números sem terem uma noção correcta de que por trás deles há pessoas, com problemas, individuais, familiares, profissionais, dos quais saltam dificuldades demasiado corrosivas para as suas vidas. Não é por acaso que os números de crimes violentos e de suicídios têm aumentado.

Algumas de tais entidades procuram atender aos alertas de pessoas sensatas mas não mostram possuir clarividência nem sensatez para agir da forma mais correcta que inspire confiança e crie esperança em dias melhores. E, na ausência de tais qualidades, acabam por tomar atitudes do tipo de ser «pior a emenda do que o soneto» e fazem promessas fantasiosas, sem base sólida, mentirosas, falaciosas, sem plano nem agenda, não inspirando a mínima credibilidade, antes reduzindo mais a pouca existente. Só para ilustrar esta alusão cito, de entre muitas outras, uma promessa de 14 de Agosto de 2012 e uma de 9 de Janeiro de 2013.

Apesar do desprendimento da vida a que me habituei há mais de 57 anos, como atrás referi, sinto com angústia o desprezo que os governantes têm pelos idosos, os doentes e os deficientes, em resumo, os não activos, e aconselhando a deixar de recorrer ao serviço nacional de saúde porque este está em risco de encerrar por falta de dinheiro. Isto evidencia a tendência materialista e monetarista de recusar apoio aos que dele mais necessitam. Além das dificuldades crescentes no apoio de saúde, há os cortes de subsídios de férias e de Natal os aumentos de preços e, de uma forma geral, a redução do dinheiro disponível para a satisfação de necessidades vitais. Chega a ter-se a dúvida de se não terão como objectivo a eliminação de todos os inactivos, por os considerarem pesados nas contas do Estado.

Por esta razão, dadas as circunstâncias, será necessário e, mesmo, indispensável que os governantes façam um esforço para passarem a tomar decisões claras e convincentes para as pessoas e com a aceitação destas, como é próprio das democracias. Governar não pode reduzir-se a um exercício teórico em sala isolada do país e dos seus cidadãos. Será bom que sejam postos em prática conceitos de humanidade como os referidos no início desta reflexão.

À Querida Amiga (...) agradeço ter-me inspirado a estas palavras neste dia.

Iamgem de arquivo

6 comentários:

Gisele Claudya disse...

Poxa, menino, num dia tão feliz ( TEU ANIVERSÁRIO), escreveste algo tão lindo que me emocionei. Como diz um amigo meu croata que vive em Portugal: "fiz pipi pelos olhos".
Deus permita que tua veja seja sempre linda e que te inspire a textos tão lindos e verdadeiros.
Saúde e felicidades, meu amigo.
Beijinhosssssssssss

A. João Soares disse...

Querida Amiga Gisele Claudya,

Obrigado pelas simpáticas palavras e pelo «pipi pelos olhos».

Isto não passa da expressão de ideias de um «velho» que procura ser sábio e, para isso procura estar bem atento aquilo que se passa neste planeta, realçar aqui o que de mais prometedor aparece e alertar para o que parece menos correcto a fim de ser corrigido antes de causar catástrofe. Já me chamaram missionário e evangelizador, mas a minha modéstia não aceita isso tais epítetos, apenas gosto que reconheçam a minha boa vontade de contribuir para uma humanidade mais harmoniosa, pacífica e cooperante.

Beijos
João

Fê blue bird disse...

Amigo João:

Li e reflecti atentamente este seu grande e valioso testemunho de vida.
Uma vida que devia servir de inspiração a tantos que infelizmente desprezam o valor adquirido dos mais velhos.

O meu pai, com 82 anos, colocou na quarta-feita um pacemaker, e ontem à tardinha fui buscá-lo ao hospital, felizmente está em franca recuperação. Apesar da falada crise nos hospitais, verifiquei uma dedicação de todo o pessoal hospitalar acima das minhas expectativas, o que me fez continuar a ter esperança na nossa gente, nas nossa qualidade humana.
É esta solidariedade e grandeza que devemos enaltecer para nos ajudar a fazer fase a tanta injustiça de quem não percebe nada de valores humanos.
O respeito pelos nossos velhos, nossos jovens, nosso povo, deve ser a nossa bandeira, hoje e sempre.

Bem haja meu amigo!

Beijinho

A. João Soares disse...

Amiga Fê,

Fez muito bem em trazer aqui o testemunho da forma como o seu pai foi tratado na operação de implante do pacemaker. Desejo que a adaptação entre a máquina e o seu pai decorra bem. Por vezes há ligeiro incómodo mas facilmente ultrapassado. De uma forma geral os profissionais da saúde são atenciosos. No dia 18 de Setembro fiz uma operação a uma hérnia inguinal e fui bem tratado por toda a gente desde o cirurgião até aos simples serventes. Todos me pareceram conscientes de que uma operação que para eles é muito simples, pode constituir momento de stress num doente para quem aqui constitui um momento raro e de risco.
Desejo ao seu pai saúde e que sinta os benefícios do aparelho durante muitos anos, pondo os olhos no cineasta Manuel de Oliveira que já conta 104 anos feitos em 11 de Dezembro último.

Os meus cumprimentos a seu pai e beijos para si
João

Luis disse...

Caríssimo Amigo João,
Como é uso dizer-se "a Velhice é um posto" e tu és a prova disso mesmo! As tuas palavras revelam a sabedoria da idade e experiência que dela advêm. Estava incumbido de apresentar-te os parabéns caso a nossa amiga não o conseguisse fazê-lo a tempo mas verifico que não foi preciso pois ela com o "seu jeito" apresentou-se e, muito bem, a tempo e horas. A fotografia que encontraram revela o teu carinho pelos teus cães e a sesta do "guerreiro" essencial para quem tanto trabalha em prol de todos nós. A velhice tem destas coisas...
Um grande abraço e que continues dando o teu contributo para "tempos melhores"... pois bem precisamos que tal aconteça!

A. João Soares disse...

Amigo Luís,

Muito obrigado pelas tuas simpáticas palavras quwe agradeço.
Como sabes, fiz voluntariado dando aulas em três «universidades» para a terceira idade, em Lisboa, na Rua das Flores, na Rua Pascoal de Melo e no Palácio dos Coruchéus e, em tais funções, a recompensa é a sensação de que estamos a fazer algo de útil de que as pessoas gostam e beneficiam. O «trabalho» voluntário que faço nestes blogues é orientado pelos mesmos objectivos e sinto prazer ao ver o interesse das pessoas através do contador de visitas, dos comentários deixados ou comunicados por e-mail ou por voz.

E, por vezes, como reajo de madrugada a notícias que me inspiram, acho interessante ver mais tarde que comentadores criadores de opinião, com aspecto de imparciais e amantes de Portugal, seguem as mesmas linhas que eu, o que me mostra que não estava errado nem mal orientado.

Vou continuar até que «a voz me doa».

Abraço
João