Há pelo menos uma década e meia está a ser planeada
e experimentada quer a nível do nosso país, quer na Europa e no mundo uma nova
ditadura- não tem armas, não tem aparência de assalto, não tem bombas, mas tem
terror e opressão e domesticação social e se deixarmos andar, é também um golpe
de estado e terá um só partido e um só governo- ditadura psicológica.
"Nunca uma situação se desenhou assim para o
povo português: não ter futuro, não ter perspectivas de vida social, cultural,
económica, e não ter passado porque nem as competências nem a experiência
adquiridas contam já para construir uma vida. Se perdemos o tempo da formação e
o da esperança foi porque fomos desapossados do nosso presente.
Temos apenas, em nós e diante de nós, um buraco
negro. O «empobrecimento» significa não ter aonde construir um fio de vida,
porque se nos tirou o solo do presente que sustenta a existência. O passado de
nada serve e o futuro entupiu.
O poder destrói o presente individual e coletivo de
duas maneiras: sobrecarregando o sujeito de trabalho, de tarefas inadiáveis,
preenchendo totalmente o tempo diário com obrigações laborais; ou retirando-lhe
todo o trabalho, a capacidade de iniciativa, a possibilidade de investir,
empreender, criar. Esmagando-o com horários de trabalho sobre-humanos ou
reduzindo a zero o seu trabalho.
O Governo utiliza as duas maneiras com a sua
política de austeridade obsessiva: por exemplo, mata os professores com horas
suplementares, imperativos burocráticos excessivos e incessantes: stress,
depressões, patologias, border-line, enchem os gabinetes dos psiquiatras que os
acolhem. É o massacre dos professores. Em exemplo contrário, com os aumentos de
impostos, do desemprego, das falências, a política do Governo rouba o presente de
trabalho (e de vida) aos portugueses (sobretudo jovens).
O presente não é uma dimensão abstracta do tempo,
mas o que permite a consistência do movimento no fluir da vida. O que permite o
encontro e a intensificação das forças vivas do passado e do futuro - para que
possam irradiar no presente em múltiplas direcções.
Tiraram-nos os meios desse encontro,
desapossaram-nos do que torna possível a afirmação da nossa presença no
presente do espaço público.
Actualmente, as pessoas escondem-se, exilam-se,
desaparecem enquanto seres sociais.
O empobrecimento sistemático da sociedade está a
produzir uma estranha atomização da população: não é já o «cada um por si»,
porque nada existe no horizonte do «por si». A sociabilidade esboroa-se
aceleradamente, as famílias dispersam-se, fecham-se em si, e para o português o
«outro» deixou de povoar os seus sonhos - porque a textura de que são feitos os
sonhos está a esfarrapar-se.
Não há tempo (real e mental) para o convívio. A
solidariedade efectiva não chega para retecer o laço social perdido. O Governo
não só está a desmantelar o Estado social, como está a destruir a sociedade
civil.
Um fenómeno, propriamente terrível, está a
formar-se: enquanto o buraco negro do presente engole vidas e se quebram os
laços que nos ligam às coisas e aos seres, estes continuam lá, os prédios, os
carros, as instituições, a sociedade. Apenas as correntes de vida que a eles
nos uniam se romperam.
Não pertenço já a esse mundo que permanece, mas sem
uma parte de mim. O português foi expulso do seu próprio espaço continuando,
paradoxalmente, a ocupá-lo. Como um zombie: deixei de ter substância, vida,
estou no limite das minhas forças - em vias de me transformar num ser
espectral.
Sou dois: o que cumpre as ordens automaticamente e o
que busca ainda uma réstia de vida para os seus, para os filhos, para si. Sem
presente, os portugueses estão a tornar-se os fantasmas de si mesmos, à procura
de reaver a pura vida biológica ameaçada, de que se ausentou toda a dimensão
espiritual.
É a maior humilhação, a fantomatização em massa do
povo português. Este Governo transforma-nos em espantalhos, humilha-nos,
paralisa-nos, desapropria-nos do nosso Poder de Acção. É este que devemos,
antes de tudo, recuperar, se queremos conquistar a nossa potência própria e o
nosso país."
José Gil
2 comentários:
Temos a arma na mão para derrubar os governos que nos levaram a este estado - Eleições.
Os governos que têm estado no Poder é que destruíram o nosso país e a CEE quase todos os Países membros.
Temos a arma nas mãos e não usamos porquê?
Eu voto contra. Nunca na minha vida votarei nos três partidos que estiveram no des(governo) mas, infelizmente, há muita gentinha, os exploradores, corruptos e ladrões que irão votar nos mesmos. Depois queixam-se. Quem tem culpa? Não é quem elege este bando?
Há mais partidos e já mais dois surgiram. É neles que devemos investir dando-lhes o beneficio da dúvida. Quanto às próximas, as Europeias, é votar contra. Sabem o que é? Se não, vão votar nos mesmos...
E queixem-se...
Cito de memória uma frase muito significativa: Há dois dias em que nada podemos fazer - ontem e amanhã - pois apenas hoje, agora, temos capacidade de fazer algo.
O ontem já passou e, dele apenas podemos aproveitar o resultado da acção e a experiência colhida. O amanhã é incerto e, quanto a ele, convém agora ter cuidado em não cortar as possibilidades de o «agora» que há-devir ser melhor do que o actual. Não é bom adiar, nem sacrificar o hoje com hipóteses de fantasia que poderão não ter viabilidade.
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