28/09/2012

CIGARRAS

CIGARRAS

No calor sufocante do meio da tarde
em meio às oliveiras ressequidas
as cigarras não calam e espalham
seu canto polífono, encantado,
transmissor de cenas já vividas.

Um regresso aos campos infindáveis
de cereais brilhantes, de um ouro magnífico
em que escondidos e mudos esperávamos
a hora certa de apanharmos o já visto.

Talvez também um miúdo de calções
pés descalços, um tanto desgrenhado
vivaz, rápido nos actos, nas decisões,
anúncio de um adulto polifacetado,
se perdesse também por entre outras oliveiras,
no seu porte já cansado e desgastado.

Díspares no tempo,
iguais nas intenções,
a mesma vivacidade evidenciada
como tantos miúdos de calções
e miúdas de rapazes disfarçadas,
boinas nos cabelos soltos plantadas
pernas cobertas de rasgões
das silvas e outras ervas já roçadas.

Bendita infância e juventude
de expedições incríveis recreadas.
Início de vida, sonhos, devaneios,
distâncias imensas já vencidas
nas horas da vida transportadas.

E esse miúdo de calções,
essa miúda de formas arrapazadas
se encontram anos e anos depois
no canto das cigarras aprisionadas
num gesto destro e desafiante capturadas
mas logo, logo a seguir de novo libertadas................ Isabel Martins 2 agosto 2012

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