12/06/2009

Ousadia

Fui demasiado ousada.
Palmilhei um largo caminho
E neste momento,
Sinto a alma enrugada
Por não saber ser comedida.
Conter meus receios,
Suster meus gritos
Para deixar acontecer
o nunca acontecido.

Quis acelerar um processo
Onde me achava timoneira
Pensando só,
No meu ritmo ondulante,
Persistente
Nessa promessa de ajuda.

Não pensei em ti.
No meu compasso de espera,
No teu voar de pato bravo,
No poisar da Primavera.
Na liberdade legítima de seres
Simplesmente tu.

Fui intrusa,
Dei palpites,
Penetrei no impenetrável,
Toquei a harpa da loucura
Nessa postura
De quem tudo sabe e quer.

Quis saber teus pensamentos,
Ser amiga, irmã, amante,
Ser remédio
Que tudo cura.

De olhos embaciados,
Com a alma entristecida
Dou conta das atrocidades cometidas.

Desculpas é pedir pouco.
Perdão é desejar muito.

Poema da amiga Maria José Areal, do seu livro Pedaços de Mim, publicado em Maio de 1999.
Uma das minhas pinturas.
Fernanda Ferreira

7 comentários:

A. João Soares disse...

Este belo poema, se não tivesse assinatura, podia ser tido como uma confissão de arrependimento de Sócrates ao país depois de perder as eleições legislativas!!
Depois de escrita esta impressão espontânea, quis aqui deixar um verso ou dois que a sustentassem, mas, para meu espanto, em cada palavra assenta essa impressão que sortiu de repente ao chagar ao fim da primeira leitura.
Parabéns à poetisa e os agradecimentos à Ná por a ter trazido até nós.
Beijos
João

Luis disse...

Amigão,
Então tu achas possível que o "Sócrates" fizesse algo semelhante???? É ousado, atrevido, mas dificilmente faria "acto de contricção" e pediria desculpas pois acha-se o máximo e detentor de toda a verdade, como qualquer "bom charlatão". Mas que o poema é lindo e merece a luz do nosso blogue não haja dúvida! Em boa hora foi aqui postado, pois tem a ver com muitos dos nossos bloguistas, a começar por ti!
Um abração

A. João Soares disse...

Amigo Luís,
Tu tens razão. Esta minha mania de recusar os modernos símbolos da Internet eheheheh e rsrsrsrs conduz a isto. A minha ironia não é notada e depois recebo estas bofetadas injustas!!!!

Mas tens de concordar que não reparaste nos sinais ortográficos que coloquei a seguir a depois de perder as eleições legislativas!! eh eh eh eh eh eh eh
Já ficas contente?

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amigo João,

Desculpe mas parece-me um tanto estranha a comparação...mas se calhar sou só eu ^_^

Realmente acha que ele "Sócrates" era capaz de vir com os olhos embaciados pedir desculpas???
Sonhador...

Beijinho

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amigo Luís,

Gostei muito mais do outro comentário...
mas obrigada na mesma.

Acho que hoje tanto o João como o Luís estão muito brincalhões... Acho que já li para aí em algum lugar falar das "piquenas"...ainda bem que estão animados.
Beijihos

Unknown disse...

Ná,
este poema é uma bela confissão de arrependimento e um pedido de perdão sublime.

LINDO!

Beijinhos,
Ana Martins

J.Ferreira disse...

Amiga Ana,

A sua sensibilidade é imensa, eu sei, quem escreve como a Ana só podia achar este poema lindo.Obrigada.

Espero que brevemente seja a própria a escolher o que deve publicar, até lá eu limito-me a escolher os que mais me tocam, os que me dizem mais de acordo com os meus próprios sentimentos.

Beijinhos,
Fernanda Ferreira