Medo de morrer!
Reflexões baseadas em entrevista de Isabel Allende
A morte é um fenómeno natural como o nascimento. Não
sabemos quando nem como acontece, mas não devemos ter medo.
Agora, sob o efeito da pandemia, devemos repensar a nossa
ligação às coisas. Devemos aprender a simplificar a emoção da relação com as
coisas, pois, na verdade, não nos pertencem e devem servir-nos apenas para
viver.
Libertemo-nos
daquilo que não nos é necessário e convençamo-nos de que precisamos de muito
pouco para viver e isso será cá deixado. Realmente, temos muitas coisas a mais
que, embora nos tenham dado prazer e motivos de vaidade, são desnecessárias e
dispensáveis.
Depois da meditação sobre as muitas coisas que temos e que
não são essenciais, convém perceber quem são os verdadeiros amigos e as pessoas
com quem desejamos estar e com quem aprendemos algo de importante e útil nesta
fase da vida.
Devemos aproveitar
esta pandemia para compreendermos melhor a realidade e fazer uma sensata
triagem das prioridades. E devemos procurar aceitar que cada pessoa tem as suas
prioridades e recursos, embora, globalmente sejamos uma única família, sofrendo
todos em consequência de uma infecção original ocorrida num indivíduo dos
antípodas. Aquilo que aconteceu em Wuhan, na China, está a ter reflexo em todo
o planeta o que nos convence de que é uma ilusão um país (ou uma tribo) se
considerar isento dos problemas ocorridos do outro lado do globo. Na verdade,
as pessoas não podem viver isoladas e seguras por muralhas ou paredes.
A actual pandemia está a criar-nos uma nova mentalidade e a
humanidade está a caminhar para uma futura normalidade. Os jovens e muitos
artistas, cientistas, homens e mulheres, estão interessados em organizar um
novo tipo de futuro.
Estamos condenados a perder tudo.
Quanto mais temos mais perdemos. Perdemos os nossos pais, outros familiares, pessoas muito estimadas, animais de estimação e acabamos por perder as qualidades físicas e mentais.
Quanto mais temos mais perdemos. Perdemos os nossos pais, outros familiares, pessoas muito estimadas, animais de estimação e acabamos por perder as qualidades físicas e mentais.
Mas não podemos viver com medo. Não queiramos ter medo dum
futuro negro porque, dessa forma tornamos negro o nosso dia-a-dia.
É preciso manter serenidade para vivermos o presente da
melhor forma possível. O dia de hoje é real e devemos procurar ser felizes
porque o amanhã é incerto.
A concretização de nova sociedade, proveniente de novas mentalidades deve ter uma gestão espontânea, recebendo alguns retoques para evitar conflitos desnecessários e que podem servir de travões indesejados.
O medo de um futuro negro pode tornar o presente mais trágico, com conflitos indesejados.