11/03/2011

O Torso

‘Ainda mergulhado no torpor matinal, de persianas corridas e pensamentos trancados, ouço ao fundo do corredor o som dos meus pesadelos. Os passos afiados, como uma estocada de um qualquer toureiro espanhol, libertavam no ar toda a fealdade gelada da sua alma e tinham em mim efeitos diversos, bastante distantes da placidez do torpor em que me encontrava…’ (in ‘O torso’, de Ricardo Mendes da Fonseca)
"Assim começa a história de um jovem mutilado que se vê privado da sexualidade, vivendo numa casa caiada de conservadorismo, que encerra uma verdade bem mais subversiva. Encontra finalmente o amor num dia chuvoso de funeral. ‘O torso’ é a 1.ª auto-publicação de Ricardo Mendes da Fonseca, recorrendo aos serviços editoriais disponíveis no SitiodoLivro.pt, uma história originada pela frustração laboral que o autor acumulou ao longo dos anos. Através desta obra, o autor quis e conseguiu exprimir as suas emoções e realidades vividas no seu passado." (in blog do Sítio do Livro).

Pensa, quem me vier visitar durante esta publicação, que fugi ao normal, que houve uma entrada de um novo tema, não. Resolvi falar nesta publicação, que adquiri no Sítio do Livro, para que saibam que numa geração que dizem "rasca" e se sente "à rasca", para conseguir sobreviver pelos próprios meios há, ainda, quem queira ser excepção, não se deixando arrastar para o precipício que os "iluminados" deste rectângulo escavaram.
Neste país, parte-se do pressuposto que a cultura se adquire na escola, que tem que se tirar uma licenciatura, um mestrado (muito em voga) para se ser alguém, para se ter conhecimento, para se ser feliz, amado e idolatrado, para se fazer algo em grande. Esta nunca foi a minha opinião e os maus exemplos apresentam-se, diariamente, aos nossos olhos. Nós, simples mortais, conseguimos encontrar, saber e conhecer o que está a apodrecer no nosso país, conseguiríamos, facilmente, agarra-los e coloca-los no lixo, sem lhe darmos hipóteses para contagiar o que, ainda, há de são. Os economistas e políticos, esses mesmos que aparecem na TV, a enumerarem soluções para a crise, que não passam de facadas para os mais pobres e desprotegidos, não conseguem enxergar as mudanças necessárias para levar este barco a bom porto. As soluções que eles encontram acabam sempre por cair sobre os mesmos, por serem temporárias, por não resolverem nada, por defenderem apenas uma classe social, a dos inúteis.
Este Jovem, o R.I.P., cujos blogues visito desde que conheci o mundo da blogsfera, surpreendeu-me e surpreendeu todos os que tiveram oportunidade de ler o Torso. Conseguiu quebrar regras com esta excelente obra., exprimir-se, dar voz a uma camada jovem que respira cultura. Será ele uma excepção?
Sempre comparei este Jovem a Saramago, tive já oportunidade de lho dizer, alguém que tem uma visão muito própria do mundo que o rodeia, autodidacta, criativo, que gera polémica, vigilante que encontrou na palavra a arma para lutar contra a injustiça, ignorância e poder. Alguém que procura a verdade através da análise, da observação da experiência vivida, modificando o conhecimento manipulado à nascença. Era assim que eu via Saramago mas, também, é assim que vejo Ricardo Fonseca.
Comprem, leiam e analisem. Vale a pena.
Brown Eyes
Continuo ausente, responderei aos vossos comentários logo que me seja possível. Não podia, no entanto, deixar  de me unir a um grupo que apoio, a geração à rasca, deixando aqui um excelente exemplo. 
Blogues do autor: Prá lém da linha vermelhaquest for the sublime...lyric

2 comentários:

A. João Soares disse...

Amiga Brown Eyes,

Infelizmente, a maior parte dos jovens não prime pela cultura pelo saber pela sabedoria fruto do pensamento e da maturação através da curiosidade e da vontade de compreender.
Mas há jovens geniais. Encontra referência a vários no blog Do Mirante, bastando pesquisar «jovens». Quanto à iniciativa de dia 12, parece mais uma brincadeira, para baralhar e chamar as atenções num Carnaval tardio. É preciso uma boa sacudidela nos políticos, mas é necessário esquematizar o objectivo a atingir e preparar as estratégias a seguir para os alcançar.
As revoluções vencedoras da nossa história, tiveram resultados muito pouco positivos por falta de consciência dos fins e dos métodos para criar sociedades mais livres e democráticas.
É preciso saber «o que queremos?» e «como o vamos conseguir?». Não devemos cair nas mesmas asneiras e incompetências do poder actual. Se queremos mudar deve ser para melhor em todos os aspectos.

Não me cansarei de procurar contribuir para um futuro mais promissor, para os que agora vivem com mais dificuldades e que estão sempre «à rasca».

Beijos
João
Saúde e Alimentação

Luis disse...

Minha Boa Amiga Brown Eyes,
Partilho da opinião do João pois as experiências a que tenho assistido ao longo da vida me fazem assim pensar! Há que ter objectivos, pensar neles, amadurece-los e criar soluções através de uma organização a elas adequada pois só dessa maneira poderemos colher bons frutos destas atitudes. Caso contrário poderemos cair em situações de oportunismo de alguns como é agora o caso. Dito isto afirmo que irei estar presente na Manifestação para me aperceber da sua realidade.
Na verdade os (des)governantes que temos tido deviam ter vergonha do que têm feito e demitirem-se voluntáriamente dando lugar a quem saiba GOVERNAR! ACABEM-SE COM AS MORDOMIAS DA CLASSE POLÍTICA, COM PENSÕES "PORNOGRÁFICAS", QUE SÓ DEVEM SER DADAS APARTIR DOS 65 ANOS E NÃO COMO AGORA QUE HÁ INDIVIDUOS QUE AS RECEBEM SEM QUE TENHAM ATINGIDO A IDADE DE REFORMA,
ACABEM-SE COM TANTOS DEPUTADOS QUE NADA OU POUCO FAZEM, ACABEM-SE COM OS BOYS E GIRLS QUE NADA FAZEM, ACABEM-SE COM A MAIORIA DOS INSTITUTOS E SITUAÇÕES AFINS QUE SÓ SÃO FONTE DE GASTOS INCONSEBÍVEIS, ENFIM VENHA O BOM SENSO PARA QUE DEIXE DE SER NECESSÁRIO MATAR A "GALINHA DOS OVOS DE OURO" QUE TEM SIDO, ATÉ AGORA, O POVO PORTUGUÊS! A FOME JÁ GRASSA POR TODO O LADO E "ELES" QUAIS "SANGUESSUGAS" CONTINUAM SUGANDO ATÉ À EXAUSTÃO... E DEPOIS O QUE RESTA? "ELES" NÃO VÊM QUE ESTÃO A CRIAR AS CONDIÇÕES PARA A SUA "MORTE", SÃO ASSIM TÃO ESTÚPIDOS E GANACIOSOS?
Até amanhã, mas continuo a dizer que há que ter cautelas para não cairmos numa situação ainda pior!
ESTAREI ALERTA!