O facto aqui relatado pelo autor do artigo mostra que há carência de competência, sensibilidade e experiência de análise de assuntos importantes e de capacidade para tomar decisões em assuntos de tal importância. A competência e a capacidade de gestão não dependem exclusivamente de diplomas e cursos universitários pois além de textos científicos exige uma preparação adquirida da vida prática de observação e análise de ocorrências em nosso redor e do raciocínio sobre as causas dos fenómenos os condicionamentos reais que os influenciaram, a forma como se desenvolveram e os seus resultados, por forma a concluir de factores que os tornariam diferentes e de se obterem resultados mais adequados à finalidade pretendida. A escolha de pessoas para os altos cargos não pode cingir-se aos seus diplomas universitários, pois estes muitas vezes até são de pouca utilidade prática
Não, senhor PM, a culpa não é dos
portugueses /premium
https://observador.pt/opiniao/nao-senhor-pm-a-culpa-nao-e-dos-portugueses/
2101220. Observador. Por João Marques de Almeida
Se o exemplo e a autoridade de um PM são sempre importantes, em tempos de pandemia são essenciais. Como é que os portugueses podem acreditar na palavra do PM depois da tanta incoerência e oportunismo?
Numa
declaração em que, sem qualquer pudor, responsabilizou os
portugueses
pelo aumento dos casos de Covid, o PM fez uma afirmação
espantosa.
Disse, e cito: “Este não é o momento para aproveitar as
brechas
da lei para se fazer o que não deve ser feito.” Num momento de
sofrimento
nacional, António Costa tratou os portugueses como
violadores
da lei. Mais um exemplo da insensibilidade do nosso PM. A
maioria
dos portugueses não anda a ver como se aproveitam as
“brechas
da lei”. Pelo contrário, está a tentar sobreviver como pode.
Em
geral, os portugueses estão aflitos sem saber como será o seu
futuro.
Se vão acabar num corredor de hospital, se vão despedir-se dos
familiares
de idade sem saberem se os voltam a ver. Se vão perder o
emprego.
Se vão ter dinheiro para pagar a casa. Os portugueses estão
angustiados
com a pandemia e o seu futuro. E o PM português diz
perante
todo o país que andam a “aproveitar as brechas da lei.”
Esta
afirmação é ainda mais extraordinária vinda do líder de um
partido
que se especializou nas últimas décadas em aproveitar todas as
brechas
da lei para satisfazer o seu apetite pelo poder. Costa avalia os
portugueses
pelos padrões de comportamento do seu partido.
Vamos
então às “brechas” do PM. Nenhum português abriu tantas
brechas
como o governo socialista. Com os portugueses em casa, as
esquerdas celebraram o 25 de Abril, sem máscaras, para
mostrar quem
são
os donos do regime. O que se aplica a todos, não se
aplica a eles. O
25
de Abril de 2020 não foi o dia da liberdade (e, para as almas mais
sensíveis,
sublinho apenas o de 2020). Foi o dia da soberba
socialista.
Depois
abriram brechas aos sindicatos para celebrarem o 1º de
Maio e
ao PCP para fazer a festa do Avante. Foram decisões
políticas de um
governo
minoritário que necessita de apoio parlamentar. O voto dos
comunistas
no Orçamento de Estado pagou a festa do Avante.
Pelo
meio houve a Champions em Lisboa, os
auto-elogios porque
Portugal
tinha resultados muito melhores do que a maioria dos países
europeus.
Houve ainda um verão igual aos outros, com fotografias
do
PM e de membros do governo na praia e em férias, como
se a
pandemia
tivesse acabado. Aqueles que avisavam para o perigo de uma
segunda
vaga eram tratados como os habituais “profetas da desgraça.”
O facilitismo, o populismo e o desejo de agradar aos portugueses
repetiram-se entre o Natal e o Ano Novo. Além
disso, depois das
excepções
políticas da Primavera e do Verão, para agradar às
esquerdas,
o PM não tinha autoridade para ser duro com os sectores
mais
conservadores da população portuguesa. E quando já muitos
falavam
da terceira vaga, o PM jurava que nunca mais impunha um
confinamento
aos portugueses.
Este
comportamento errático, com excepções e favores políticos (cheio
de
“brechas”), retirou autoridade moral ao PM. A autoridade
conquista-se
com o exemplo e com um comportamento acima de
qualquer
suspeita. Não basta fazer discursos cheios de boas intenções.
Se
o exemplo e a autoridade de um PM são sempre importantes, em
tempos
de pandemia são absolutamente essenciais. Como é que os
portugueses
podem acreditar na palavra do PM depois da tanta
incoerência
e oportunismo?
António
Costa também afirmou que este não é o tempo de disputas
políticas, mas sim de unidade nacional (e
disse isto a menos de uma
semana
das eleições presidenciais, mostrando um entendimento
estranho
da democracia). No entanto, o governo não aplica o
princípio
da unidade nacional ao sector da saúde, dividindo permanentemente o
SNS e a saúde privada. À disponibilidade total dos
grupos de saúde
para
colaborarem com o governo e com o SNS, a ministra da
Saúde
responde com a ameaça da requisição civil dos hospitais privados.
Neste
caso, não há preocupações com a unidade nacional ou com a
violação
do estado de direito?
O
preconceito ideológico contra o sector privado está a repetir-se com
as
vacinas. Neste momento, só se vacina no sector
público. O Reino
Unido foi durante meses o pior país europeu em termos de novos casos
e de mortes. Mas a vacinação está a correr melhor do que em qualquer
outro país europeu. No Reino Unido, dão-se vacinas nas
farmácias, nos
supermercados,
nas igrejas; e das 8 da manhã à meia noite. Eis o
exemplo
de um país que decidiu colocar o combate ao Covid acima
de
considerações ideológicas e corporativas.
Portugal deveria seguir o
exemplo
britânico.
Para
vacinar metade da população portuguesa em seis meses (dez
milhões
de doses), seria necessário dar 55.000 vacinas por dia. O SNS
não
tem capacidade para o fazer. É fundamental mobilizar todos os
meios
existentes, públicos e privados, para vacinar os portugueses o
mais
rapidamente possível. Mas desconfio que nem perante a
maior
crise pandémica na Europa, o governo abandona os seus preconceitos
ideológicos e a sua fidelidade aos interesses corporativos.
António Costa perdeu credibilidade e autoridade. Hoje,
em termos
relativos
à população, Portugal é o país da Europa com o maior
número
de novos casos diários e de mortes. A Hungria, do “terrível
Orban”,
com
uma população semelhante à portuguesa, tem cerca de 10 vezes
menos
casos diários e três vezes menos mortes diárias.
No
início do mês, o PM estava cheio de si próprio com o início da
presidência
portuguesa do Conselho da UE. Seria o momento para
brilhar,
com a bazuca de fundos e com a vacina. Mas a realidade é
muito
diferente. O PM português mostrou que não tem
capacidade
para governar um país em crise. Os portugueses continuarão a
sofrer
por
causa dessa incapacidade. Mas se o sofrimento é inevitável,
dispensam
seguramente os insultos do PM a tratá-los como
incumpridores
da lei.