Prefácio
Um Mundo Melhor
A nossa vida individual e a da sociedade ou da humanidade em que nos inserimos é uma marcha, desde o nascimento até à morte, pelo que não podemos deixar de olhar para a frente, para o local onde vamos pousar o pé, a cada passo. Esse é o nosso futuro, o depois, que desejamos seja melhor do que o presente, um mundo mais saudável em aspectos de ética, com mais paz, mais harmonia, maior fraternidade.
O passado interessa em muitos aspectos como uma referência que serve de lição para evitarmos os erros anteriores e procurarmos ser merecedores dos êxitos do passado e competirmos com eles, estabelecendo novos recordes e novas metas. A Natureza conduz-nos a procurar ser sempre melhores e a ultrapassarmos os resultados anteriores, como qualquer bom atleta.
Isto não é utopia, mas a mais simples racionalidade. A criança, ainda a rastejar a quatro, procura seguir o exemplo dos pais ou do irmão mais velho e tenta levantar-se e, depois mexer os pés, desequilibra-se e cai, mas procura levantar-se de novo e, assim, depois de muitas tentativas inspiradas por um objectivo desejado, acaba por conseguir andar sem apoios de outros. É assim a busca de um «Mundo Melhor».
Recordo dos primeiros passos no estudo da História Universal que o objectivo das religiões monoteístas e dos chefes sociais eram as pessoas e as suas necessidades vitais. As ciências que depois foram sendo criadas eram focadas nas pessoas e no ambiente natural. A economia foi estruturada com o centro no bem das pessoas, sendo a contabilidade um meio, uma ferramenta para permitir atingir os melhores resultados para a humanidade. O próprio dinheiro, que hoje é considerado a pior droga, foi criado para facilitar as trocas de bens e serviços entre as pessoas e não para criar fossos entre uma pequena elite usurpadora e uma multidão de carentes do essencial.
Como no universo os astros giram em sistemas de estrelas, planetas e cometas com os seus satélites numa harmonia interativa sem colisões, também o Mundo será melhor se procurar a harmonia. A célula fundamental será a família à qual devem ser concedidas condições de desenvolvimento adequado, emitindo luz como um astro central da humanidade. Os animais ditos irracionais dão ao autodenominado racional lições maravilhosas de solidariedade e entreajuda. Não temos muito a inventar, mas a analisar, a apreciar a Natureza cósmica e a orientarmos os nossos passos no sentido correcto para melhorarmos o nosso futuro em harmonia com o sistema universal da Natureza.
De posse destas ideias, nas obras da pensadora poetisa Zélia Chamusca, cujo valor está bem patente nos seus variados poemas, e dispensa as fracas palavras de elogio de um simples cidadão, encontrei frequentemente não tanto frases para decorar e citar, por a memória já me fracassar, mas, principalmente, conceitos de ética social e leis da alma, do ser em confronto com o ter, que me faziam parar e meditar por vezes durante horas ou dias. Quando nos deparamos com seres pensantes com este magnetismo, sentimo-nos capazes de subir montanhas para ver mais longe em resposta ao estímulo que recebemos. Por isso, ao ser convidado para alinhavar algumas palavras como prefácio, venci o receio devido à minha falta de experiência nestas andanças, confessei a minha falta de capacidade e prometi esboçar umas frases, mas sempre com temor de reduzir o valor da obra magistral.
Os portugueses, como toda a humanidade, nesta aldeia global, precisam de obras como esta e de mais pensadores como a poetisa Zélia Chamusca, que alertem as pessoas para recuperar os valores morais de respeito pelos outros, por mais diferentes que sejam, na sua cor, na sua religião, no seu poder de compra, na sua afeição clubística, etc. Só com a atribuição de prioridade à ética, à paz, à harmonia e à fraternidade, se valoriza o respeito pelo ser e se posiciona no devido lugar o ter que hoje é usado como adaga de ostentação, arrogância e exploração dos que são, frequentemente, mais válidos eticamente, mas menos dotados em bens materiais.
Ao olhar-se, como acontece em muitas páginas deste livro, para o que há de mais chocante na sociedade aparece o dinheiro como o factor mais tóxico das pessoas. Ele gera uma ambição sem controlo, ilimitada. Quanto maior é a quantidade, maior é a necessidade atávica de mais e chega-se ao ponto de que os mais poderosos, donos de tudo, arriscam sofrer uma implosão em que assistem à pulverização do fruto de tantas manobras sem sentido ético nem racional. Tal droga, quando não é tomada como medicamento em doses limitadas à dimensão das necessidades lógicas, contamina as pessoas de moral mais frágil e de imaturidade ética que se lançam em atividades em que esperam enriquecer o máximo, em pouco tempo e por qualquer meio. Mas sem sermos utópicos, verificamos que só é realmente rico e feliz quem dá prioridade ao ser, respeita a lei natural, a moral, as pessoas e desenvolve a solidariedade.
Na sociedade, em geral e, principalmente, no topo do poder financeiro é exacerbado o ter, o poder viral do dinheiro que se torna altamente antissocial, quando suporta os jogos de interesses, o salve-se quem puder, a promiscuidade entre interesses públicos e privados, etc. Os efeitos vão desde o mecanismo da preparação das leis que condicionam o funcionamento da Justiça, e a corrupção já muito sofisticada ao ponto de ser quase impune. Começa a ser pouco credível que apareça alguém com qualidade de intrépido herói que se arrisque a fazer a prometida reforma estrutural do Estado. Mas não podemos perder a esperança da vinda de tal messias que dê uns abanões à árvore para fazer cair a fruta podre.
E, como há quarenta anos, se dizia que em democracia «o povo é quem mais ordena», a criação de um Mundo Melhor compete a cada um dos cidadãos, na sua quota parte de intervenção, por exemplo, nas eleições, ao escolher o melhor dos melhores para o que deve procurar obter o máximo de informação de cada candidato do conjunto, a fim de depois não vir a arrepender-se de ter escolhido mal.
Para terminar, deixo um conselho aos leitores:
Não procurem ler em velocidade. Mastiguem bem cada conceito, vejam bem se estão de acordo e discutam mentalmente sobre o aspecto apresentado pela autora e a vossa opinião. É desta forma que tirarão o melhor proveito desta obra que absorveu muitas horas, dias e meses de trabalho à pensadora poetisa Zélia Chamusca e que constitui uma boa ferramenta para que todos possamos ajudar a construir um Mundo Melhor. Oxalá consigamos dar o melhor contributo para este objectivo grandioso e urgente.
António João Soares
Coronel Tirocinado, com o Curso Complementar de Estado-Maior, na reforma
Prefácio da obra UM MUNDO MELHOR
pelo Coronel António João Soares
Autora - Zélia Chamusca
Chiado Editora